Homem, Menino ou Quixote ?

Há sempre um último em tudo:

o último suspiro, a última gota,

o último instante,

há um ponto final para cada realização,

cada tarefa, cada momento.

Só não há para um sentimento!

Amizade, ódio, rancor, amor,

esses não acabam num estalar de dedos,

num simples pulo de alegria pela obra terminada,

ou por um murro na parede pela frustração do fracasso.

Não! Para que sumam de vez de dentro de nós,

é preciso que, lentamente, nos arranquem um pedaço

do coração e, dependendo da sua intensidade, nos

arrebatem-no inteiro.

Assim estou eu nesta fria manhã de primavera.

Não deveria estar assim, afinal, a primavera não foi

feita para despedidas, foi feita para renovações e confirmações.

Mas quis o destino que o meu amor, embora o maior que eu pude

dar a alguém nos meus 50 anos de vida, não fosse

suficiente para

arrancar os preconceitos e os temores da amada.

Ou quem sabe ela não me amou?

Afinal, ao contrário, das declarações deste homem

apaixonado e entregue, nunca me disse que amava!

Quem fui nessa história?

Um tolo poeta de palavras férteis,

coração aberto, espírito quixotesco,

disposto a tudo pela mulher que ama,

um adolescente neófito no amor, ou um homem

seguro de si, traído pela própria soberba?

De qualquer forma, nunca saberei.

Mas divagar eu posso ...

Como posso entender alguém a quem ofereci o mundo,

simplesmente me pedir para esquecê-la, me desprezar

em nome de uma vida de aparências?

Servir a um homem ao qual afirma não mais amar?

Em nome de que ou de quem?

Dos filhos, da família, da sociedade?

Só posso entender, divagando sobre isso tudo,

qualquer pessoa pode inferir que deve ser em nome

de um único sentimento:

Do amor!

Ela só pode amá-lo.

Não há outra explicação!

Ninguém se anula dessa forma,

ninguém que ame de verdade, joga no lixo e magoa

Alguém, como ela fez.

Ela só pode amá-lo!

É essa a explicação.

E o derrotado fui eu.

O poeta bufão, o hilário Quixote,

objeto de deboche,

que se deu mal por amar de verdade,

o menino assustado,

que chora baixinho, com medo de, caso ouvido,

ser repreendido pelos pais.

E a perdi porque o meu amor não foi suficiente,

esse sentimento e essa convicção eu vou levar

para sempre,

por onde andar.

Quando pude ser feliz,

quando quis fazer alguém feliz,

não consegui.

Não fui suficiente.

Os poetas sofrem. Por isso são poetas.

Não é o que todos dizem?

Mark Rebew
Enviado por Mark Rebew em 31/10/2011
Reeditado em 01/11/2011
Código do texto: T3309232
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