Espetáculo da Monotonia

Sentado nessa poltrona,

Olho a tela do computador,

Parece tudo inerte onde estou,

Sigo nessa rotina que aprisiona.

Exploro a imaginação,

Me masturbo por mecânica,

Vejo fotos com semelhança,

Erótica estética de simulação.

Olhos os livros na estante,

Penso em ler novamente,

Sei que se tornarão diferentes,

Ainda assim parece ato duplicante.

Ouço o som urbano,

Do lado de fora das paredes,

Mas que invade meu ambiente,

Os ouvidos captam o mundano.

Suando já sem camisa,

Escorrendo pelos pelos,

Sou um homem ao avesso,

Admirando a vida.

Que animal cretino eu sou,

Acredito ser indivíduo,

Disseram que me tornei isso,

Não passa de pensamento louco.

Aquilo é uma traça,

Correndo pela parede,

Destruo antes que chegue

A devorar os livros de grossas capas.

Estou rindo sozinho,

O maior prazer da solidão,

Saber que nos sentimos em duplicação,

Um esquizofrênico sorrindo.

O automóvel parado na garagem,

Eu circulo sem me movimentar,

Nessa alcova que tende a me abrigar,

Felicidade que é emocional chantagem.

Beethoven não me consola,

Nunca nenhuma música o fez,

Da melancolia sou cativo freguês,

Vivo de amizades de esmola.

Com essa caligrafia medonha,

Traço contornos mal traçados,

Gosto de ser um Frankenstein letrado,

Criando-me em literatura estranha.

Não crio perfil em sites de relacionamento,

Para que novos vazios a serem despejados?

Já na bastam esses gestos diários?

No fim, resta apenas esse eu por um falso dentro.

Sem ânimo para cantar,

Pigarreio de forma doentia,

Faço do escarro uma melodia,

Onde o ápice seria expectorar.

Minha febre é de baixa temperatura,

Fria como a emoção recalcada,

Sou um Proteus de formas inalteradas,

Faço da minha cama uma sepultura.

Esses passarinhos cantando,

Não passam de corvos funéreos,

Em busca de meu cemitério,

Compondo cantoria de pranto.

Meu romantismo decrépito,

Se tornou busca por vaginas,

Penetrando mulheres frígidas,

Degustando esse insosso sexo.

Venham abutres da burocracia,

Estou pronto para ser devorado,

Já me faço na web de virtual fragmentado,

A contabilidade se tornou minha numerologia.

Essa cueca, comprimi meus testículos,

O copo de água gelada escorre devido ao calor,

Talvez escreva algo para quem me desprezou,

Agora só provo esse pão de ontem, endurecido.

Uso a bíblia cristã como apoio para a prateleira da sala,

No final da semana passada,

Não comprei material de higiene adequada,

Limpei-me após defecar com páginas das escrituras sagradas.

A tv vive desligada,

A programação não e impressiona,

Essa poluição me congestiona,

Essa moral está contaminada.

O tabuleiro de xadrez,

Com as peças empoeiradas,

Uma coruja em estátua,

Vigia a monotonia outra vez.

O porta-retrato nostálgico,

O cão de olhar misantropo,

Os mosquitos, acompanho com os olhos,

O canto diurno do galo é de um tenor trágico.

Vivo pelas madrugadas,

Até a noite se cansar de virar as costas,

Para esse sol que deseja iluminar na aurora,

É quando durmo ignorando a manhã ensolarada.

Se chove me entedio com o som da água,

No calor odeio a sensação de abafado,

Dou preferência a clima cinza, nublado,

No quarto só a luz fosca que se faz notada.

As pálpebras já pesam sobre os olhos,

O dia está para nascer porque é insistente,

Amanhã repetirei gestos displicentes,

Se isso é ser homem, me reduzam a micróbio.