GRADES DAS EMOÇÕES

Um poema estava preso atrás do medo

E algemado na cela vil e intrépida da ilusão

Preso por revelar o crucial segredo

Dizendo o que as pessoas realmente são...

Um poeta estava preso atrás do sonho

E algemado na cela vã da insensatez

Preso por escrever o verso mais medonho

Naufragando as letras no maior idílio que já se fez

Um sentimento estava preso atrás da aparência

Relativa ao auto-retrato do poeta insano

Que impregnou no poema a mais sublime essência

Com forma surreal e de qualquer tamanho

Um sorriso estava preso atrás do poema triste

Esculpido pelo poeta com todo amor à arte

Mas o ódio de todo verbo que corrói e existe

Não concedeu à alegria o dom que se reparte

E após o poeta ter cumprido a pena

Por tantos anos no presídio das emoções

Enfrentou a dor como maior dilema

E se retratou nos versos de Camões

O poema, assim, ganhou um habeas corpus

Sem sair incólume ao momento vão e vil

E meditando, um dia, na posição de lótus

Foi levado pelo sentimento que já sucumbiu.

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