O Idealista
Quando chegou a primavera, faltou luz no silencio da tarde.Algo em mim, sufocado,ardia e batia forte em meu peito como se o visitante que eu não queria receber já estivesse à porta da frente.
Tentei fugir do barulho e feito águia a levantar vôo,escutei meus passos com precisão.
Fechei-me na penumbra do quarto e ao olhar pela janela,tornei-me poeta aprendiz que ao admirar a vida,soma os versos de sua primeira poesia.Diferente de outrora eu já não sabia o que fazer.
“Passei metade de minha vida acumulando riquezas”,disse-me o sonhador realizado.Eu porém,passei grande parte de minha vida a defender meus ideais.
Ofereceram-me do ouro ao diamante para eu os abandonar ,mas não aceitei.Recusei reinos e vales,montanhas e mares,tudo era sem valor para mim.
Como quem segura uma jóia rara nas mãos ,segurei forte e os protegi para que não os roubassem de mim.
Hoje mal acredito que em uma tarde tão bela,quando a brisa leve soprava sobre mim,eu troquei por 30 moedas de prata tudo aquilo que sempre me deu esperança e vida.
Percebi que passei tanto tempo a defender certos valores éticos e como quem empunhava uma espada afiada,lanço-a ao chão e abandono tudo.
Pergunto-me se foi inútil recusar o ouro que por tanto tempo me ofereceram.E como se a venda de meus olhos fosse retirada,vejo a vida de outra forma.
Já não insisto em usar o brasão sobre o peito e pela janela vejo minha capa vermelha no varal.Descobri que os heróis que sempre aplaudi,não passam de homens velhos, cansados e arrependidos de salvar o mundo.
E por temer ser igual a eles,larguei a caneta e rasguei o poema.Por saber que um dia serei esquecido da mesma forma que esqueci de lutar,sinto-me um velho que levanta a bandeira e chama pelo que não se conhece.
A saudade já se foi e no muro da esquina eu não vejo as juras de amor eterno.
Feito criança arrependida por ter quebrado o vidro,devolvo agora as 30 moedas de prata na esperança de que volte a vida.
ROCHA,José A.S.
joseasrocha@hotmail.com