Passagem

Despeço-me do absurdo de viver

Do delírio de um dia conseguir

De uma vez apenas ter as mãos

E o coração onde quero e como

Sem desviar disso como perda

Do tempo que perco sem pesar

Não. Não tenho a vã crença em mim

Nem no que invento para dar-me

Uma segunda, outra chance

De provar o contrário

Do que sempre foi

A minha vida

Se abrigo algo com afeto

É porque já deve estar morto

Aprendi a façanha

De não me abraçar ao que muda

E não pensar-me precisa quando sou meio

Minha saudade é sempre mais amável

Minha memória diz mentiras perfeitas

Que nenhuma realidade desmonta

Em um punhado de palavras e outras vulgaridades

Mesquinhas em entrelinhas

Que me fazem sentir a vida

Como se sente uma pedra no sapato

De quem precisa correr atrás

Correr, com passadas medidas

Correr, sem ter qualquer meta

E chamar ao sudário de feridas

De história da própria vida

História de uma idiota

Certezas de uma reles

Percurso de uma imbecil

Objetivos de uma estúpida

Me trouxeram até aqui

Foi a história de um erro

Levado até os últimos fôlegos do engano

E cuja hora já é póstuma

Agora, resto assim

A sujeira e os cacos

De um sonho perdido

Da amizade com o erro

Do sofrer sem o orgulho

Da luta para ser infeliz

Da solidão de um palhaço

Esforçado em levar-se a sério

Agora

Esforço-me para ver-me passar

E somente passar em branco ao negro

Thais Paloma
Enviado por Thais Paloma em 16/04/2012
Reeditado em 31/12/2018
Código do texto: T3616572
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