Chuva, saudade, morte e vida...

A minha casa mesmo sendo feita

com os alicerces tão fortes e vindo do meu amor

Não aguentou a chuva que veio com fúria

e sem compaixão a arrastou

Tudo o que eu tinha conseguido em anos,

num instante a chuva levou

Eu fiquei ali inerte olhando o local

onde ela estava antes

e que agora só a saudade ficou

Imaginei cada ponto do lugar

e tentei montá-la de novo em pensamento

A cozinha tão pequena, mas cabia toda a família

e na mesa sorridentes nós repartíamos o nosso alimento

O meu quarto foi fácil de descobrir nas ruínas,

lá estavam os meus lençóis

e todas as minhas roupas de cama

O meu maior aconchego misturado com a terra,

todo impregnado de lama

Ali eu adormecia protegida do relento,

um lugar que sempre foi de se fazer amor

com quem se ama

A sala, quase impossível não vê-la,

a TV entre os escombros

e já não estava mais ligada

Um pouco antes da minha casa ser levada

eu assistia um noticiário dizendo

que a chuva não estava fraca,

no qual mostrava vários lugares

sendo levados pela enxurrada!

Eu nunca pensei que aconteceria comigo

o infortúnio de outros que eu vi na televisão,

que eu iria fazer parte dos que lamentavam

as perdas, a destruição!

O que eu obtive com meu empenho

em anos de dedicação,

em poucos segundos veio ao chão

Eu fiquei ali paralisada, observando

tudo e completamente sem ação!

E mais desolada eu fiquei ao ver

que além da perda material

que muito me fez chorar

Foi ver um bombeiro que no colo carregava a morte,

um amigo meu que a lama não deixou respirar

Uma imagem angustiante,

eternizada na minha memória,

tanta desventura e tanta gente a se lastimar!

Numa noite eu sonhei que tinha voltado lá,

até coloquei a chave na fechadura

e pude adentrar...

Nada me aparentou estar alterado,

as crianças estavam na sala a brincar!

Então eu vi uma imagem

que aqueceu meu coração

Meu amigo ainda estava vivo,

sorriu-me quando passava na rua e

até me acenou com a mão!

Eu pude ver a minhas fotos antigas,

abracei com ternura o meu álbum de recordação

E de tanto contentamento eu chorei e acordei...

Os sonhos não são eternos,

nós sempre temos que voltar a realidade

Viver o dia presente, renascer a todo instante

e ao mesmo tempo morrer de saudade!

Janete Sales Dany
Enviado por Janete Sales Dany em 17/06/2012
Código do texto: T3729910
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