Esperava mais da vida

Esperava mais da vida. Esperava mais do amor. Esperava mais da profissão. Esperava tanto, e pouco. E o pouco que esperava era algo em vão.

Quantas vezes andei sem rumo, buscando um tempo já passado. O tempo, impiedoso, rasga o véu da esperança para cobrir o mundo de saudade.

E a saudade é mais doída com a areia que se esvai por entre os dedos.

Não importa o lugar. Nem mesmo a distância. O sonho que era acalentado tornou-se assaz impotência.

Esperava mais de mim mesma. De cada manhã de primavera doce e serena. E de todas as noites chuvosas ou plenas de estrelas.

Esperava mais do agora, para que ao se tornar passado pudesse ser algo digno de nota. Mas é apenas mais um dia. Um dia dilacerado pelo vazio do cotidiano.

Esperava mais de meus olhos. Eles foram cegando à medida que o tempo mostrava os verdadeiros valores humanos. Tanto viu e tanto chorou que agora, secos, não pensam mais no que mudou.

Esperava mais de minha muda garganta. Tanta palavra calada pela injustiça e falta de perseverança. Nada dói mais do que o mudismo do fracasso.

Esperava mais das pessoas que me cercam. Esperava mais porque faz parte do indivíduo querer do outro o que acha que tem direito. Queria mais por puro egoísmo. E esperava mais por meu vasto comodismo.

Esperava viver eternamente em meu castelo de areia. Eu o construí longe da praia, num lugar ermo e desabitado. Era para ser eterno. Incólume. Desacreditado.

Esperava olhares mais serenos e azuis. Menos cobranças, menos importância àquilo que reluz. Mais simplicidade nos passos bambos. Mais passos na vida de um pobre molambo.

Esperava mais dentes e menos saliva, mais sorrisos e menos intrigas, mais amizades e menos missivas.

Esperava apenas a oportunidade da vida.