Revolta

Revolta,

Não solta a boca um grito

Prende, amarra

Na lama fervida dos pântanos

Por onde deitam os jacarés

Coração pura sujismundice

Antes visse a cor, mas não vê

Jamais crê sem os olhos

No dito oco e muito dito

Daquele livro de ler,

Porque os livros caducam

E a loucura da letra

É a doença da ideia

Vacina não há para isso

Revolta,

É tanto musgo e lodo no cenho

Nessas rugas todas avivadas

Umidade, infiltrações,

As emoções estão todas mofadas

No assoalho, um coalho

De bolor povoa a madeira

Reclina-se à poltrona o pó,

Dorme só, sonha céu nublado

Vazando da pia, água turva

Se esgueira, me espia a sede

Que não pode lograr fim

Remédio não há para isso

Revolta,

Vai de correnteza no rosto

sente-se o gosto de sal

Um funeral se guarda nos lábios,

Na pouca palavra afogada

E morta na limpidez do choro

Que o dolo de ferir se esqueça!

Aconteceu antes, aconteça depois

Uma chance de reparação

Joelho contra o chão

Não faz perdão de pronto

E para florir, é preciso esperar

Jeito não há para isso

-----------------------------------------------------------

Nota: momento de esculpir imagens pouco nobres, de erguer monumento para o auto-consolo.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 11/02/2007
Reeditado em 04/03/2021
Código do texto: T377273
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.