O INVERNO DAS POMBAS BRANCAS

Um dia o mundo viu o que sempre soube

Que veria, um dia os meus olhos choraram

De dor, de descaso, de frio, fome e solidão...

Eu vi e senti, senti como as "pombas da paz" matavam-me.

Então meus olhos se voltaram para cada túmulo,

Alguns nem flores receberam, outros nem túmulos tiveram,

E se tiveram a neve do inverno os cobriu...

Conbriu-os mas não fez passar tão pouco o frio.

Eu estive lá e minha alma chorou como nunca havia chorado...

Vi cada uma delas surgir do nada, tão de repente.

Eram elas!_ As chamadas "pombas da paz"... Quando passavam

O povo aplaudia convencido de que tudo ficaria bem.

Porém aos meus olhos a miséria, a dor, a fome, a violência,

O preconceito, o ódio... Para mim quando as "pombas brancas"

Apareciam era justamente isto que meus olhos sonhadores,

Calados, assustados, tenebrosos viam, apenas viam...

Eu sabia que choraria... De alguma forma eu choraria,

Pois tudo ali cortáva-me a alma ainda viva.

Eles correram e tentaram se esconder, como se o frio

Do triste inverno fossem lhes salvar a vida...

As "pombas brancas da paz" mataram, mataram

Todos os meus amores, amores esses que me aqueciam,

Amores que me faziam enfrentar tudo que meus olhos viam

E me faziam chorar... Minha alma secou, cansou de lutar.

As flores caiam como neve gelada sobre os túmulos,

Sobre os mínimos túmulos que os massacrados receberam.

Eu vi e senti, senti quando cada vida era sugada e mesmo assim

Os meus olhos de chorar não paravam, não paravam.

Eles eram os "heróis", apenas heróis que nem nome receberam

Em seu epitáfio... Lá tudo estava nú e aqueles olhos ainda famintos

Olhavam-me como se houvesse ainda alguma esperança contida em

Cada lágrima que cada um derramou. _ Eu sei que sim, eu sei que havia.

Eu chorei, chorei uma eternidade, chorei por cada rosa, por cada flor

Jogada aos túmulos dos que poderam tê-los. _Mesmo sem epitáfio.

Chorarei para ver se algum dia um homem não aplaude outro homem,

Por que eu vi pessoas morrerem diante de aplausos fanáticos. _Eu as vi partir...

As "pombas" ainda existem, cada uma com seu canhão pronto para espalhar

Mais flores, mais túmulos sem epitáfios, mais lágrimas de meus olhos...

_Falar em cobertor não faz o frio passar; falar em comida não mata a fome;

Falar em amor não nos faz amar; falar em justiça não nos faz ser justos...

As rosas ainda estão lá, pássaros por elas passaram e levaram

Suas pétalas. _Tenho esperança de que esses mesmos pássaros

Passem e levem de mim essa dor por cada vida que cada guerra

Sem motivos levou. _Levou amores, esperanças e só deixou dores.

Que o mundo não aplauda mais outro homem, que o mundo não só fale...

Que o mundo não veja, mas sim sinta; que não fale de amor, de esperança

E só plante dor. Rezo para que meus olhos não precisem mais ver o fim;

Rezo para que meu corpo não venha sentir o frio tenebroso do inverno da Alemanha.

Anna Araújo
Enviado por Anna Araújo em 16/02/2007
Reeditado em 23/02/2007
Código do texto: T383619