Poema de decepção

Quando o mundo é contra

E o céu é muito escuro

As nuvens nos cobrem inteiros

E correm como sangue

Nas veias que mal se agüentam

De tão pulsantes

Agora tudo pára no mundo de verdade...

E me vejo sucumbido

Na mentira que não quis inventar

Diversas vezes tentei me curar

Tentando tirar a alegria de mim

Sabe, quando algo me faz bem?...

Aprendi que não devo sempre me entregar

Devo ter o ceticismo pra me acabar

Na dúvida da felicidade ser real

Não me perder no que acho

Por achar vencer, natural...

Dá-se um poema triste

Pra quem só se vê seviciado

Pelos caminhos do bem alheios

Sempre é suscetível aos dardos

Andrié, ao mundo, pra que veio?

Se não tens sede de vencer

E nunca pode comemorar a felicidade

Sem antes confirmar que não existe

E que é puro vicio de vaidade

Mas tens que ter uma alegria na vida

Ou uma vida na alegria

Mortas são flores que eu não vi

E sempre as cantei

Lindos os lábios que senti

Mas que nunca beijei

Frios os poemas de amor

Se não são pra quem amo...

Eu não soube: me engano?

Paz para um coração parado

Que, sem motivos, bate em letargia

Como se não batesse

Ninguém notaria

Pois é um ponto já sem serventia

Me entrego para os braços

De quem a todos quer

Seja criança, seja homem

Seja adulto, seja mulher

A que nos recebe com os braços abertos:

“Quem bom que você acabou...”

Leio as coisas que me interessam e entretém

E não aplico minhas teorias a ninguém

Me escondo na página dos livros

Que nem sentem a rudeza do mundo

Pois estamos enamorados profundos

Unidos pela falta de alegria

Se eu me for, prometa não chorar

Livros, não me deixem me afogar

Quem são vocês pra me impedir?

Meus amigos mais fies

Ou aos que não escolhi?

Envolto estou nos meus próprios pés

Prometo não te denunciar meu santo

Santo que sou eu mesmo

Santo involuntariamente

Santo que finge ser só meu

Mas é de toda a gente

E que de poucas rimas dispõe

Morre, poeta, está na sua hora

Alegria maior é ter sido assim reconhecido

Como coisa que nunca foste, meu amigo

Prometa acabar contigo mesmo

Mas não me decepcione desta vez

Você não tem rumo, saia

Sai da estrada que mal sabe se guiar

Que não conhece o tal asfalto

E tem medo de o pisar

Tente correr mais e mais e mais

Mas se contente: nunca irá chegar

Treme de frio rodeado de pedras

Todas atiradas contra ti

Mal maior, no mundo, nunca vi

Quem nunca teve uma alegria duradoura.

Quem já teve uma alegria duradoura

Atire a primeira pedra: elas estão aí.

Muito doce é este sorriso grande

Mas desfile este sem motivos

Tem que doer o seu coração

Ou então a consciência

Ou o pé, o queixo, a mão

Não quero que nos atrapalhe mais...

Não adianta reclamar, pois...

É verdade, o seu prazo acabou!

Tua amada tirou o teu medo de morrer

Mas sabes muito bem que pode acontecer

E desejo, sinceramente, o teu livramento

Ande distraído, por favor, fique desatento.

Quiseste escrever coisas sobre o mar...

Mas nem sabe como são as coisas lá

Tu, que na terra já está a se afogar

Vem pro mar, que ficamos felizes

Verá: é uma alegria duradoura

Um ato de coragem; heroísmo

Meu poeta, vem ser assim tão sensível

A ponto de ver heroísmo

Em acabar contigo mesmo

Virá correndo para os meus braços

Mancando cheio de correntes

Vem que te espero, Eloqüente.