Pano

Pego esse trapo,

Rodopiando,

Dou um laço,

Jogo num canto.

Tecido velho,

Limpa móveis,

Flanela de metro,

Não rasga, é forte.

Na cintura vira kilt,

Pra donzelas é saia,

Não há um que não agite,

Pois o vento varre a sala.

No chão é piquenique,

Lençol pequeno de amor,

No varal balança com pique,

Seca suor de testa com calor.

Rasgado em algum momento,

Transformado em sobra,

No carro dá até polimento,

Cobre o pássaro que está na gaiola.

Guardanapo limpa a boca,

Jogo de toalhinha para lanche,

Na cabeça se faz de rude toca,

Véu de nudez por um instante.

Seca o sangue,

Limpa o chão,

Dentro do tanque,

De molho com sabão.

Cobre o rosto islâmico,

Encobre a brecha que entra o sol,

Enxuga lágrimas em triste pranto,

Arrastado por cães sem dó.

Roto logo apodrece,

Deixado no lixo,

Útil, por mais que o reneguem,

Triste pano, largado, esquecido.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 20/12/2012
Código do texto: T4045107
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