Angústia
Meu canto é triste como o pio da rola
que agudo soa neste matagal imenso
A voz que de minha garganta ecoa
sino que dobra, imita seu lamento.
A multidão que de mim gira em torno
suscita integração comigo alguma
Se sal nesse mar de gente formo
solidão d’alma minha assim arruma.
Entre amores que busquei outrora
neles sempre pouca fortuna tive
Por quem meu coração ainda implora
indiferença, eis paga sublime.
Este bronze de meu olhar merencório
numa estiagem constante vive
As lágrimas, natural lavatório
há muito secaram, nada as revive.
Em tremores agora envolvido
meu corpo fraco claudica insano
A medicina não tem resolvido
a fé - acho – me tem como profano.
Através deste meu lábio tristonho
desde há muito que não rio um riso
Nem ânimo para isso encontro
sem o rir, melhor tem sido o siso.
Agora que tenho algum vintém
meu espírito não se anima nunca
Das mulheres que quis veio desdém
minha higidez aos poucos caduca.
Nem me dá forças a pouca idade
e assim torturado sigo, dia a dia
Meu coração triste, em morbidade
só exige repouso, na laje fria.