INDIFERENÇA
I
Nasci! Que coincidência!
No dia do meu aniversário agonizante
Morrendo no incenso incessante
Do turíbulo das aras da dolência
Aceita-me, Deus, no seu inefável paraíso edênico!
Pois já não me importa viver mais
O meu amor não é mais intenso
Nem maior que o dolo que sinto
No eflúvio de álacres rosas vermelhas
Sinto o perfume do teu beijo terno
Ah! Era anjo triste e não satírico poeta
Hoje no altar do insensível dolo eterno
Como a ave que esvoaça entre as flores
Como a águia renovando-se de cores
Exalando volúpico o desvario dos tolos
Ou parabenizando-me com doces e velhos bolos
II
Nasci! Que coincidência!
Satirizando a diafaneidade do amor
A fragilidade do amor cristalizado
E a veracidade do amor capitalizado
Não tenho a fragrância da rosa vermelha
E a podridão invade cada minha aurora
Qual lacrimoso amor que voa como abelha
No amanhecer, no anoitecer que vai embora
Ah! Era anjo triste e não satírico errante
Pois nasci velho naquele dia agonizante
E agora tal, porém maior que os infinitos
Exalo lúgubre o perfume dos teus ritos
Malditas linhas destes versos que se encerram
Gritando alto o coito ruflante e epidêmico
Ó Céus, ó arrebol de ebúrneos astros que se enterram
Ó Deus, receba-me no seu inefável paraíso edênico