Teorema da Borboleta
Impera o desejo agora
De desfazer o que regia
Mas de doçura é rija a lembrança
Que lentamente invadia
Do chocolate no branco
À pêssego assemelhada,
Do vermelho do botão da rosa
Aos poucos desabrochada.
Do passado em fios negros
Da delicadeza sob mãos.
Do medo e do riso inesperado
Do ignoto em revelação.
Da entrega em tempo errado,
Carteiro profanando sacra carta.
Dos pontos de luz nos olhos negros
Em meio à desconsertada cantata:
Por onde andei há pureza perdida,
Na ventura do último romance,
Longínqua como os barcos do litoral,
Mas em imagens da mão ao alcance.
Foram-se os olhos certos!
Direções opostas, em mesma parte.
Mãos queridas desenlaçadas.
Acorda! Que o amanhã nos reparte.
Imperioso desejo hodierno
De desfazer o desejo de outrora
Desenlaçada, a mão da imagem
Rasga tal imagem agora.
Oeiras, julho de 2009.