Velhice no Brasil

Veja minhas mãos. Não, não olhe para meu rosto, esqueça do meu corpo.

Atenção, olhe para minhas mãos e eu te explico: Vê esses dedos postos

Nessas mãos, onde se vê pele elástica, veias, artérias à mostra, é a tal

Velhice que chega aos poucos e assusta no começo com os primeiros fios

Brancos de cabelo, mas depois devagar, gradativamente, sem pressa nos

Envolve como uma aranha envolve sua presa em seus fios de seda, então

Tudo é questão de tempo. Meu rosto e meu corpo não fogem ao processo

Degenerativo. Sou agora velho. Sonhos? Não existem mais. Família?

Não nos querem de verdade, somos todos, os velhos, lastros de navios

Lançados fora para aliviar certo peso para que a viagem continue. A vida,

Mas que vida? Sou livro lido, quiçá tenha deixado alguma lição. Sou jornal

De ontem, informação passada, desatualizada, sem valor para o hoje, mas

Sinto inveja, pois mesmo assim tem serventias: É forro de chão, cobertor,

Abrigo de mendigo. Não, não olhe para meu rosto. Olhe para essas mãos,

Que sequer conseguem justapostas ficarem para agradecer pela vida que

Tive e para pedir fervorosamente : Senhor Deus, perdoe-me por tanto

Rancor e reclamações mil, mas é que ficar velho dói, sim a velhice dói,

Principalmente aqui no Brasil.

Castilho Benício
Enviado por Castilho Benício em 19/06/2013
Reeditado em 14/06/2020
Código do texto: T4349567
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