CARTA DE DESPEDIDA
Uma dor vermelha
Uma promessa não cumprida
E o sangue escorre quente
Fugindo da veia cortada
Tão infeliz quanto o corpo
De qual fugiu
Pálida, jogada no chão
Agonizando só
Sem flores em seu leito de morte
Querendo se matar logo
Para não sofrer
Mas sem forças para levantar
E apanhar o punhal
De fogo
Que queima
Mas não tanto quanto a traição
Não tanto quanto sonhos perdidos
Como a nuvem de prazer dissipado
De ilusões desfeitas
Rosas brancas
Rosas negras
Rosas furta-cor
Meu amor
Não olhe para cá
Logo vai acabar
Sem você perceber
Não quero te fazer sofrer
Quero guardar na memória a lembrança doce do seu último olhar
Azul como meus sonhos brandos
E mais azul que o céu de novembro
Sob o qual eu morro
Sentindo o sangue esgotar-se nas veias
Meus sentidos
Cada vez mais aguçados
Percebo muito tarde que o mundo é lindo
E que sempre há saída
Porém agora não dá mais
Não sobra tempo para me salvar
Nem que seja recollhido meu sangue impuro
Misto às impurezas da rua
A única maneira é salvar minha alma
Para que ao menos ela não pereça no inferno
Se você vier rápido ainda dá tempo
Não venha
Não quero que um anjo veja meu passamento
Me deixe perecer
Vai ser melhor pra você
Quem sabe guarda nossas boas lembranças
As poucas em que estive sóbria
Desentorpecida
Não deprimida
Não tem nada haver com você
Você foi o meu anjo de salvação
Eu entreguei-te meu coração
E o deixo com você
Tudo de bom que você me despertou
Contudo eu não tinha mais salvação
Você chegou tarde
Eu já estava podre por dentro
Em minha alma
Em minhas entranhas
Aranhas estranhas passeiam por meu corpo
Estou perdendo a consciência
Adeus, meu amor...