Amargo
Eram meus os olhos primeiros
quando claro o mundo sem chances
homens caracóis voltados só pra si
e mais e mais suicidas ainda por vir.
Era eu a testemunha ocular
do trabalho privado de seu artesão
quando a solidão era forçada
parte dele era sonho
a fome era a outra parte
partidos ao meio de tal forma
que nunca deu para se juntar
labuta e sorriso num mesmo lugar.
Era eu o cidadão calado
frente à miséria que agredia
reprimia a ideia de violência
violentado em corpo e alma
todos os dias
e até no altar havia sangue.
Era eu assim como tantos tolos
buscando viver de uma forma sensata
armados de uns poucos argumentos
lamentos já cobriam toda a superfície
quando vomitou o vulcão do egoísmo
e a lava quente escorreu
era evidente o desespero
mas só quem não tinha
onde se abrigar morreu.
Morreram os pobres
que enfim eram só sonhos
e morreram os sonhos
que
por se contentarem pobres
morreram.