LONGE DE MIM

Ela quer me ver é no Rio de Janeiro

Não me quer mais por inteiro, quer me ter longe de mim

Ela quer o nosso fim, não pensava no indício

E o meu vasto precipício é o início do meu fim

Ela quer nossa distância, ela quer a amarga ânsia de viver longe de mim...

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Quem não ama sempre cansa, quem só ama sempre dança, clarinetes de marfim...

Não descansa noite e dia, ainda pensa em terapia, quer viver longe de mim

Diz que tem amor de sobra, cobra, cobra não tem asa, vai voar longe de mim

Para ti uma mão médica, do amor és seca, cética, sofres quando chega o fim

Sim eu sei, sei bem que sofres, mas se visses o meu viço, que perdi no seu início , no indício do teu fim...

Faz do amor um prato raso, come, cospe e como não?

És razão, és babilônia, uma loteria anônima onde eu não acerto não!

Amor posto na roleta, arquivado na gaveta, e naquela caderneta

Poesia ainda tinha...

Eram letras, letras minhas, tão sozinhas , pobrezinhas, se cansarão de nascer...

Quem nasce tão pobrezinho, quem vive assim tão sozinho tem é medo de viver

Morre antes da tua hora, nem enxergas a aurora que escrevi só para ti

Ficar bem, meu bem é pouco, fico mocho, fico louco quando estou longe de ti

Nestes olhos, o que eu via, escondia a sutileza, com certeza na dureza recebi desilusão

Quem nasce tão bonitinha, quem vive assim tão limpinha não conhece o que é o sofrer

Sou a dor do flagelado, da criança na escada, sombras mortas dos seus pais

Quero paz e brincadeira, não me deixe de bobeira no meu quarto a futucar

Velhas frases do teu olho, que enxerguei cá com meu olho e que insistiam em falar

Enganei-te meu amigo, vai embora do meu livro, saia já deste lugar !

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Ela quer me ver é no Rio de Janeiro

Já estou de saco cheio, desta vida, e deste mar

Mar nos olhos são só mágoas

O gosto salgado das lágrimas

Que só eu irei chorar...