Cinco Minutos

Daria tudo por mais cinco minutos.

Por mais um olhar buscando-me.

Por mais um “olá!” singelo.

Por mais que isso.

Bem mais que isso.

Daria tudo o que me pedisse.

Num piscar de olhos.

Buscaria a pérola mais rara.

O mineral mais longínquo.

Se ele me trouxesse o tempo de volta.

Mas, é ilusão absurda!

Não há como voltar.

Não há como competir.

Não há competição.

O que há é a perda.

E a incansável não aceitação.

A eterna inquietação d’alma.

A falta de coragem em sair de cena.

Em admitir que não foi dessa vez.

Mas, não.

Por sabe-se lá qual motivo, eu tento.

E só firo a mim.

Inevitavelmente.

Por querer algo que nem sei se me pertenceu.

Se foi troféu ou prêmio de consolação.

Tento e nem percebo a ferida ainda aberta.

Ela não cicatrizará enquanto não a remediar.

Com solução efervescente e curativa.

Ou com um novo par de olhos mais brilhantes.

É necessário o curativo.

Para que eu continue.

Para que eu pare de perder.

Meu tempo.

Minha esperança.

Morro aos poucos.

Toda vez que o recordar bate n’alma.

E como bate!

Bate, espanca, machuca e fere!

Sem nem preocupar se desculpar, depois.

É coisa de crueldade!

Daria o que fosse preciso por mais cinco minutos.

Por mais um prosa.

Mais um diálogo bobo.

Para falar do que surgisse.

E mais, do que viesse.

E que viesse talvez a certeza de liberdade.

Ou de um querer recíproco.

Creio mais na primeira opção.

Por inúmeros motivos.

Por seu medo em descer do muro.

Por medo em demonstrar o que sente.

Talvez sinta algo e não fale.

Ou nada se torne sensacional em seu coração.

Apenas sua imagem no espelho do banheiro.

Tão somente o narcisismo característico.

Coisa de quem não ama nada além do próprio umbigo.

Daria uns trocados por uma prosa definitiva.

Ao vivo e em cores.

Daquelas produtivas.

De se perder as horas, positivamente.

Porém, a ilusão é maior que os cinco minutos.

É nela em que se sustenta tudo o que é efêmero.

E de superficialidades é feito o eu e você!

Uma superficialidade e tanto!

O iludir-se é quase peça-chave.

Já deixou de ser adereço.

E passou a fazer parte do cenário.

Numa peça que mais parece monólogo.

Cheia de atos e desacatos.

Que, quando vistos de ângulos diferentes, latejam.

Daria tudo por cinco minutos mais.

Por tempos atrás.

Por mais um pedacinho de ilusão embalada em papel alumínio.

E então, me pergunto:

Seria isso possível?

Ou mero devaneio d’alma?

Não sei.

Não há como saber o seu querer,

Sem ao menos discar o seu número de telefone.

E convidar-lhe a uma bebida qualquer.

Talvez eu faça isso, amanhã.

Com menos cara de anteontem.

Com menos chuva a escorrer os cabelos.

Com menos vontade de curtir represálias da própria consciência.

Talvez amanhã.

Hoje, não.

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 28/01/2014
Código do texto: T4667900
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