BERRANTE

Sinto que o meu direito à felicidade foi revogado

Eu não tenho licença para sorrir duas semanas

Avalanche de dores, cores, sem flores, nublada

Morte e histeria, impingidas por mim mesma e outros

Que adianta chorar lágrimas deformadoras e vãs

O meu futuro, meu presente, meu passado sem alterar

O problema é meu, é que eu não me entrego

Prefiro lutar mesmo na certeza de que nada valhe a pena

Você não me quer, ninguém me quer, eu estou enfadada

Malfadado conjunto de circustâncias, pois é, foi assim

Assado, assaz infeliz, vou embora assim que puder

Vou sumir, esvanecer, queimar aos poucos as cinzas fáceis

A culpa arde, mas aqui não é o lugar correto

A inferioridade e a minha veleidade se misturam

E me machucam e me ferem e me matam e me vivem

Revivem a carcaça, o cadáver ouve rádio e acessa a internet

Suporto calada o fardo a mim imposto ao nascer

E até quando suspirarei isolada no meu canto de algodão?

Não é merecido tanto pranto em pálpebras tão jovens

Os sonhos vão morrendo com os gritos do ataque de loucura

A carne é fraca e sangrenta e fria gélida cinzenta

Dói como milhares de agulhas japonesas perfurando uma maçã

Eu sou podre, tu és podre, tudo é podridão grassa

A terapia que me cure! Estou delirante, isso não passa.