Agoniza

Quando beijares os vermes dos teus filhos,

Saberás que a vida é uma poça de merda,

No escorrer de fluxo que é sempre vadio,

Descamando os pelos no desespero da tragédia.

Réptil de sangue quente e vazio,

Encharcando a sarjeta da existência,

Apegado a qualquer fator doentio,

Angústia de rebeldes cagando clemência.

Aleijado de todos os apoios,

Perfumado pelo esgoto dos dias,

Vomitando seu próprio desgosto,

Restando o fosso até a boca de nojo.

Gargalhando tripas defecadas,

No rastejar patético do tédio,

Epilético falseando a sua vala,

Trepida no abalo sísmico de néscio.

Foda-se essa falsa realidade,

Cheias das verdades putrefatas,

Vexame de moscas em vaidade,

Copulando ascos por vaidade.

Chora e rasga o olho do cu,

Faça do drama torpe teatro,

Deus Ex Machina de Carandiru,

Esfolando o proletário descarnado.

Dança mãe aflita sobre o feto abortado,

Estupradas filhas de uma pátria cretina,

Dos céus não vem salvação e nem pecado,

Sacrifício é vício que a desigualdade sentencia.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/02/2015
Código do texto: T5148964
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