O MEDO MEDRA
O MEDO MEDRA
No quarto escuro
Olhos abertos para o nada
No silêncio puro
Próprio da madrugada
Passam as imagens
De momentos selvagens
Vividos na selva de pedra
Em que o medo medra
A cada esquina
A cada passo
Uma chacina
Uma faxina
Um descompasso
Com a civilidade
Uma ode a mortandade
Num ciclo inumano
Dum ser insano
Que parece ter dado adeus
A tudo que é de Deus
Violando preceitos
Negando direitos
A uma vida despojada
Que não vale mais nada
Apenas passa
Sem graça
Recheada de desgraça
Provocada pela raça
Racista, intolerante
Violenta, ignorante
Numa sanha sem fim
Num verdadeiro festim
De atrocidades
Em todas as idades
Invadindo cidades
E ali no quarto escuro
Num silêncio puro
Nos olhos ainda abertos
Surge uma lágrima
Matéria-prima
De uma rima
Que não vai dar em nada