MEMÓRIAS DE UM PALITO DE FÓSFORO

O astro rei majestoso,

Pintava na tela da vida,

uma escultura tão bela,

feitas de gotas de orvalho

com sobras da luz do luar.

Um novo dia raiava

pra vidas ali vividas

alimentadas da seiva

da exuberância da mata

densa, morna e calada,

pela chuva umedecida.

Num folguedo estonteante

as aves de galho em galho,

num vai e vem persistente

Enfeitavam a natureza

com cores e cantos deslumbrantes.

Pequenos seres moviam-se

pelas estreitas passagens,

entre folhas e cascas secas,

saboreando da vida

um aroma refrescante.

Morada firme e salutar,

alicerçada pelas raízes

brotadas no solo drenado

pelas águas que do céu vinham.

Entre todos brotados do chão

ou sobre o chão repousados,

eu via nesse rincão

o meu reino edificado.

Ali estava o meu mundo.

Um reino tão verdejante

entre brotos, folhas e flores

com galhos ao céu a se estender

como se em prece quisessem

ao Criador agradecer.

Passavam as estações:

Nas flores, a primavera.

Na abundância dos frutos, o outono

No inverno, pura quimera.

E quando chegava o verão,

a minha copa exuberante

sombreava e refrescava o chão.

Servi a muitos

e a todos dei atenção.

Nunca busquei cobrança

e nem pratiquei rejeição.

Os galhos sempre frondosos,

serviam como abrigo

e todos que se achegavam,

acolhi como amigos.

Porém, sorrateiramente

meu destino foi traçado.

brutalmente violentado

da mata fui retirado.

Levado sem despedida

vi o céu de tão cinza tingido

dava-me a impressão que na vida,

o verde havia morrido.

Aos poucos fui sentindo

minhas fibras dilaceradas,

minha vida modificada,

despedaçada, dilapidada.

Enfrentando a morte precoce

Aos poucos me senti conivente,

daquele novo formato

de aparência muito intrigante.

Não compreendi,

não aceitei e passei então a cismar

sobre o rumo que dariam

aquela vida tão singular.

Observando pude notar

que algo de novo surgia,

era meu corpo mudado

que em nova vida nascia.

Passei então a viver

num mundo sem muito espaço,

só não senti solidão

porque na verdade era um maço.

Assim, pelas mãos do destino,

fui transformado radicalmente,

detonado e incandescente,

útil e ultra servente.

Hoje, inerte e desprotegido,

já sem vida adormecido,

nas sarjetas esquecido,

desprezado, desvalido.

Coberto por gotas de orvalho,

por certo de longe trazidas,

quem sabe nas asas do vento,

daquela mata distante,

de reino tão verdejante,

de um mundo que na verdade,

só restou a SAUDADE!

Ana Nilse
Enviado por Ana Nilse em 01/02/2016
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