TUDO SERÁ DESTRUIDO

Tudo será destruído!!

O novo, o moderno, o velho, o antigo

O sonho que não nasceu, a dor inesperada

A luz, a noite, o súbito, a madrugada

A serra, a mata, a estrada,

Tudo será destruído

O inútil, o vago, o não entender, o omitido

O mocinho, o filme, os olhos da bondade, o bandido

Tudo será destruído!

O jovem, o ídolo, o ser obscuro, o ancião, o recém-nascido

O mundo todo, os propósitos da semente, a intenção do criador

O farol do mar, o porto, o oceano, pórtico cindido

As velas, a esperança, os valores desta vida, o desejo escondido

Aquilo que veneras,

O homem, as dúvidas, as convicções, o choro incontido

Tudo que acumulastes, tudo que for ganho ou perdido

Nada sobreviverá, nada mudará o que vier a ser

Ou o que tiver sido

Tudo será destruído!! Tudo será destruído!

O sorriso amargo de quem não viveu, de quem não tem vivido

As ilhargas da moça, o sal, o marfim proibido

A cabeça que pensa, a ilusão, o fugaz, o olhar ensandecido

O ansiar pelo irreal, o desvario,

Os sonhos da infância, o coração ferido

A esperança do novo, as incertezas do presente, a certeza do antigo

A carne, o sol, o desejo, o couro curtido

A luz da manhã, a lucidez da morte, o invisível e seus corcéis

O bolo de teia de aranha, que do nada parece tecido

O fulgor da noite, o dia frio amarelecido

O horizonte, luz retilínea, o eterno desejo do homem,

O norte jamais atingido

A alma da criança enferma, rosto de Deus partido

A crença, a fé, a ilusão, o boiar do vago, o painel esvanecido

A língua parada, a alma vazada, o soldado vencido

Tudo, tudo será destruído!!

O ódio, a alegria do homem, as conquistas

A luz que guia, a cegueira, a escuridão dos caminhos,

As crenças que movem o mundo, as filosofias,

O valor, o vazio das almas,

O jovem que em nada crê,

A voz que canta, o grito emudecido

A vida que brota, a que se acaba no precipício,

Os padrões, socialmente aceitos,

O baque surdo, do homem caído

O abandono da fé

A angustia do pastor esquecido

A terra e seu frescor, que acolhe o corpo envelhecido

O possível, as probabilidades, o eventual, o vegetal e o grotesco do exibido

O vil, o mal, o metal e o egoísmo do narciso

O beijo, as juras de amor, o amor não correspondido,

A consciência, o nada,

Tudo que possa ser amado e querido

Tudo será destruído, tudo será destruído

A boca, o vergel, a inquietação, o som distorcido

Todas as palavras, todos os gestos, todos os sentidos

O tiro, a dor que provoca

O corpo que cai, o estampido

Tudo será destruído! Tudo será destruído!

A realidade brutal e os hematomas da vida

O grito de revolta que ribomba nos ares

O horror dos Palmares

A raiva do passado não esquecido

Os versos do poeta louco, o grito primal, visceral,

Os vaticínios do profeta, o sentido das palavras

O apocalipse, o corpo adormecido,

As visões do ser iluminado,

As lembranças do passado

O desespero do deprimido

Tudo será destruído! Tudo será destruído!

A felicidade, a castidade, a ingenuidade

O falso prurido, o mal feito, o benfeito,

O pérfido, o puro, a imaturidade, o sucesso

O vício, o ódio, o sentimento imaturo,

O inseguro, o falso, o orgulho banido

Todo o bem, todo o mal

O mal do homem ontem

O mal do homem de hoje

O mal do homem ainda não nascido

Tudo será destruído!

Tudo será destruído!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 17/07/2007
Reeditado em 18/08/2023
Código do texto: T568721
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