AUSTERA REALIDADE

Vomitei todas dores que ferviam em minha pele,

Sujei o chão onde você pisou, e me machucou,

As agulhas que me ferem não são nada perto do que você causou,

Arranquei minhas vísceras com as próprias mãos,

Pois em meu sangue não queria me afogar.

Eu te dei tudo, e meus sonhos refiz para junto alcançar o seu,

Troquei meu sono por noites em claro para afastar sua solidão,

O “nós” era tão você que o “eu” se perdia em um canto sem importância,

Me desafiava a dar um passo a mais, mesmo com os pés descalços,

Pois doeria sentir que em algo eu não pude te completar.

Desperta-me deste pesadelo, eu vendi minha alma por você,

Envenenei-me nessas ilusões para fazê-lo sorrir,

Mas você se foi sem olhar para trás, arrastando meu coração pelo chão,

Eu fui largado vazio, pois o melhor de mim você levou,

E do pouco que havia em mim, nada sobrou.

Agora vejo que enquanto lhe jurava amor, você me apunhalava,

Seus desígnios estavam longe, segurava em minha mão, mas seguia em lado oposto,

Essa austera realidade que me balança tenta me manter acordado,

Estou oco, a fruta sequer amadureceu e se tornou podre,

E caída ao chão, se alguma semente sobrou, aguarda o doce da chuva na esperança de se salvar.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 04/08/2016
Código do texto: T5719115
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