Vou desistir de tudo.
A caminhada é inútil.
A estrada é uma pirambeira.
Os passos são cegos tateando 
o destino.
Seguindo para o fuzilamento.

Vou desistir de tudo.
Andar.
Respirar.
Escrever.
Falar.

Minha desistência começa nas roupas.
Desce para os cabelos.
Salta de minha alma
e respinga nódoas de gordura
na sombra fugidia.

É difícil resistir.
É difícil superar.
Transcender.
Aquecer e continuar.
Mais uma manhã.
Mais uma chuva.
Mais uma trovoada.

Mais uma incerteza.
Mais uma angústia.
Mais uma imaginação surreal.

A água escorre vigorosa.
Lama se apressa em apagar
meus vestígios.
Em breve, ninguém saberá 
que passei por aqui.
Ou que existi de alguma forma.

Em breve, ninguém transitará
Não há sinal de trânsito.
Não há faixa para pedestres.
Não há possibilidade aventada,
Há uma nesga de esperança.
Há um silêncio inconveniente
Feito de enigmas velados
Feito de espectro e potencialidades.

O que posso fazer, além
de hesitar?

Talvez eu não pudesse.
Mas eu desconhecia o poder.
Talvez eu não sobrevivesse
Mas que desconhecia o morrer.
Talvez eu hesitasse.
Mas eu insistia em continuar.
Continuar marchando em direção a morte.
Com a mesma alegria
de ter nascido.

 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/11/2016
Código do texto: T5819696
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