DESPIDO DO MUNDO
Corro por aí sem acertos.
Quando menos espero
Vem um golpe sorrateiro,
Ataca as minhas costas.
Me recupero, me levanto
E quando estou me equilibrando
Volto ao inferno
Com apenas uma pancada.
Me sinto sem sentido,
Uma dor no corpo todo
Inexplicável...
Costuro minha boneca,
Mas aparecem mais defeitos.
Os remédios despencam.
O corpo está exposto,
Despido para que o público veja.
Não sei o que preciso.
Talvez um choro conta-gotas.
Talves uma pílula-sorriso.
Ainda que fosse morar no outro lado do mundo
Apenas um caminho a seguir
Não há alternativas, não há desvios.
Sem destino, um corpo dormente
Que vive na demência, na carência, na angústia,
No abandono, no desprezo
Na solidão desse mundo.
Me vejo no escuro
Cega de todas as chances de ser feliz.
Morta dentro de mim.
Mas o coração respira,
Os olhos ardem
E as rugas me envelhencem.
Ainda há uma parte que pede vida,
Uma mão que bate em minha cara
Me mantém acordada,
Uma voz que diz: "Não desanima!"
E eu começo a sentir,
Eu preciso sentir.
Não posso fugir da vida.
Ponho a vitrola pra funcionar
Empoeirada, um som abafado.
O corpo começa a dançar.
Sente a batida sonora,
Tenta continuar no compasso,
Arrisca mudar o passo.
A música acaba
E eu mudo o disco.
Há de acostumar com o novo ritmo.
Não importa, que seja uma valsa, que seja um samba.
Eu vou tentar fazer minha história,
Vou itensificar os momentos de glória.
Deixar de ser pequena,
Crescer com os erros por quais eu choro,
Enfrentar aqueles por quais tanto temo.
E esta angústia vai se perder na memória
Mas sempre será uma faixa da minha trilha sonora.