Incansável Lamento

Contemplo a minha falsidade em encarar o teu dono

Escondo a aspereza com palavras simpáticas e mentirosas

Vou a procura do teu par, pois é o mais próximo que posso chegar de ti

E sinto a raiva absurda de nada por te enxergar em tudo

Gosto de lembrar de você, porém não quero

Sua vida foi construída sobre o que sobrara do meu coração

Desejo então que seu corpo se torne obsoleto para o meu desejo

Mas o que recebo por tal esforço é a saudade incontrolável que me acinzenta o dia

Há instantes que me encorajo em dor e penso em forjar teu sequestro

E assim te levar pra Bahia ou Jerusalém ou para o mais profundo beijo

Quero que essa vida passe acelerada, mais do que ela já passa

E poder perceber-te mil anos antes que qualquer outro possa involuntariamente te amar

Construirei casas do teu agrado, uma para cada desejo teu

E afundarei o barco em que carregas os dias que me afastam da tua presença

É muito pouco o que me sobra de ti

São só farelos de um amor dedicado a outro

E vens com qual coragem lamentar a minha ausência

Se te doas por inteiro do teu ventre ao devaneio a outro homem que não eu?

Qualquer dia me perco em desgraça e ao invés de casas construirei um novo coração

E ainda assim dar-te-ei outra vez para que possa despedaça-lo como agora

Pois entre sofrer de saudade e nunca ter te conhecido

Prefiro morrer de desgosto mas lembrar do teu gosto no meu último suspiro.