A Triste Morte de um Poema
Eu fiquei ali parada
sem sentido e sem palavras
O coração e o telefone na mão
Nada mais havia a ser dito
O Eterno em agonia reduzira-se ao Finito
A Esperança enlouquecida crivada de expectativas armara suas ciladas
Será que caí em minha própria emboscada?
Parecia que sim e não havia mais jeito
A não ser te arrancar sem demora do meu peito
Ainda que junto saísse uma parte de mim
Era melhor que fosse assim
Pra que se prolongar e agonizar até o fim?
Olhei de novo aqueles versos
Como mortos perversos se aprazendo em me assombrar
Fantasmas que a sepultura se recusava a abrigar
Eram como cadáveres sobre a página
Eram vírgulas ou eram lágrimas?
Vi a desolação das rimas
Eram sangue sobre as linhas
As primeiras a morrer sozinhas
Como fariam as palavras para viverem sem suas filhas?
Não viveram. Sucumbiram em desespero
Foi só um telefonema! -
A sentença de morte de um poema
Num genocídio atroz
Sob o som da sua voz
Pareciam perecidas de um campo de concentração
Estavam seguras em mim até saltarem do meu coração
Mas era assim que tinha que ser
Disseram aquilo que tinham a dizer
Cumpriram a missão que tinham a fazer
Tombaram marchando, lutando, valentes
Caíram como soldados da linha de frente
Foram honestas, verdadeiras
corajosas, destemidas e guerreiras
Sucumbiram ante o único obstáculo que poderia detê-las:
- A sua certeza em não querê-las.
Então quedaram-se atônitas e pálidas
virgens e cálidas
Assassinadas pela sanha de um Sonho homicida
Inconformado por morrer antes de experimentar a vida
As espadas se perderam pelo campo de batalha
O Amor surgiu vencido, vestido em sua mortalha
Olhou o que poderia ter sido mas não foi e se acabara
Reconheceu a dor aguda de não ter o que desejara
Na face inerte o flerte da lágrima clara
- Amiga e Amarga -
Olhou uma última vez àqueles versos
Pertencentes a outro tempo e a outro universo
Como um réquiem solitário sibilado pelo ermo
Inumadas e perdidas entre as frígidas folhas de um caderno.