Uma retórica nada eufórica
Fincaram um punhal na terra
e foi muito sangue, lágrimas e lama,
desde Mariana até a sua foz
e ai de nós, pobres seres e inconsequentes.
Feriram uma importante artéria,
transformando o rio num simples valão,
naquele vale, como se simplesmente fosse,
uma privada, nessa nossa existência conturbada,
como fizeram com a menina Serra Pelada,
violentada em sua mais pura inocência.
Serra nua e agora também abandonada.
Crimes brutais e de difícil recuperação
e nem mil perdões,
desacompanhados de boas ações,
resolverão.
Estamos todos bem mais pobres
e garimpeiro algum enriqueceu.
É tudo ilusão,
mas uma ilusão muito prejudicial.
Os indígenas tinham mais respeito,
mas a despeito disso, nós os dizimamos,
numa triste alusão ao mesmo dízimo,
que estabelece o valor da nossa fé.
Substituímos os castores, excelentes construtores,
em águas limpas, por ratazanas,
mas nada investimos em saúde.
Quem puder que se cuide.
De fato, o mundo está ao contrário
e ninguém reparou, Nando.
Nadando eu o atravessava, rio doce
e quisera que assim ainda fosse.
Hoje até caminhando, dá para atravessar,
se não fosse pela alta concentração mineral,
do mal,
muitíssimo pior que o sal,
natural nos oceanos,
marés que também estamos sufocando.
Ah, seres humanos, como somos decepcionantes!
Não sou ateu, mas me responda, se puderes:
e se não houver um Deus, lá no final,
para reparar as injustiças,
continuaremos com a premissa,
de que o bem sempre vencerá o mal?
Qual foi a última vez que isso aconteceu?
Até que descubram um novo planeta,
estaremos todos no mesmo barco
e pouco importa a irresponsabilidade da SAMARCO
ou o quanto é insensível a Samantha.
Mal intencionados são os que fazem as nossas leis,
em benefício dos seus reis
e para esse novo suposto planeta,
quando descoberto,
não irei eu e nem irão vocês,
a não ser na condição de serviçais
ou governantas, pobres e prostitutas,
nessa eterna disputa para definir,
com quem ficam as sobras.
Esnobam alguns,
acumulando tesouros nas tumbas,
tal e qual faziam os faraós
e no que foi que o mundo mudou?
Mudou de cor e para pior.
Mudou a esperança, que já foi bem melhor.
Mudou o amor, que virou dó.
Mudou o curandeiro, que virou médico
e também sumiu.
Mudou de país e quem não é refugiado,
é porque é capataz.
Satanás não é de todo ruim
e fazer o mal também é uma questão de opção.
E quando é,
que descerá o índio,
Caetano?
Você prometeu e estamos aguardando.