Às horas ...

Às horas gloriosas voaram-nos pássaros

de seda, na enseada branda de memórias

em chilreios audazes,

em danças de xilofones e contrabaixos...

Às horas impiedosas azularam-se

descaídos sobre boca da morte em penas brandas

de zunidos e ventos, aos ritmos lentos

de violinos cinjos ao toque de dedos corpulentos...

...em acordes infaustos e andamentos magistrais,

tangidos na raiz dos medos,

da madre terra reflorescida,

saíram em borbotões, bichos sangrentos –

negros sapos, lacraus e centopeias -,

às mãos cheias, incensados

ao sabor dos ácaros, fungos e bolores,

na recidiva de que se cobriram os pastos,

nas cores da tarde em que a dignidade ferida

crucificou margaridas na cera das nossas asas ...

... na hora demoníaca de póstumas danças.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 07/09/2007
Código do texto: T642520
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