Havia uma urgência.
Socorro afetivo.
Abraço instantâneo.
Amor descartável .
e degustável.

Soluvel
como nescafé.
Somos provisórios.
Mas a poesia é definitiva.

Sem rimas, sem lirismo,
sem elegância
Numa verborragia ativa
e contundente.

A nos cortar como animais.
A nos humanizar como gente.

Havia uma urgência
Palavras vomitadas no tapete.
Rimas deglutidas no café.
Lirismo engasgado na garganta.

No estômago 
um improvavel alimento 
finge nos nutrir de proteína.

E a dor de existir.
A latente sensação de ser passadiço
De ser o meio sem fim.
Ou, um fim sem qualquer meio.

A ponte quebrada.
A palavra quebrada.
O silêncio incinerado
As cinzas que não são phênix.

Aguarda-se um renascimento.
Novo humanismo
Novo processo.
Novo ciclo.
Novo remédio
Nova cura
para doenças provectas.

Havia uma urgência.
O amor acabou.
A paixão feneceu.
O afeto desapareceu.
Restam vínculos diluídos
em nostalgia espúria.

Reticências no olhar.
Vestígios nas vestas.
Fogo apagado na saliva.

Nas palavras que contornam 
tudo e todos.
Há órbitas semânticas.
Torneiam significados.
Contingenciam-nos.

Ah, tenho urgência de silêncios
De almas repletas de conteúdo
Decifrar e não-decifrar.
De permanecer atenta
e dispersa
De navegar
a nau dos esquecidos.

Dos insones
E, prinpalmente, dos sobreviventes
que urgem
serem mortais em
plena eternidade do momento.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/09/2018
Código do texto: T6437127
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