CAMINHO

É que as pernas doem

É que as pernas recusam-se a moverem-se

É que os ombros pesam

É que os ombros pesam peso de tonelada

É que o estômago rumina

É que o estômago devolve o gosto amargo

É que as pálpebras cerram-se

É que as pálpebras descortinam a escuridão

É que o coração aperta

É que o coração estrangula-se num torniquete imaginário

E se eu não dobrar as pernas

Andarei como anda o andarilho?

E se eu não arquear os ombros

Erguerei o mundo como Atlas?

E se eu fizer a digestão

Digerirei o fel e o mel da vida?

E se eu descerrar as pálpebras

Enxergarei o novo como novo?

E se eu desatarraxar o torniquete

Palpitarei novamente por amor?

Há que me responder

Antes que eu ensurdeça-me

Há que me mostrar

Antes que eu cegue-me

Há que me ouvir

Antes que eu emudeça-me

Há que me orientar

Antes que eu desvie-me

Há que me salvar

Antes que eu mate-me.

Jose Raymundo Xavier
Enviado por Jose Raymundo Xavier em 24/11/2018
Código do texto: T6511102
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