Não olhe
Apelo para sua empatia;
Traga-me de volta à vida
Com o mover dos seus lábios
E as vibrações da sua voz.
Deixe que ecoem em mim
Suas últimas palavras
Até que eu possa lembrara-las
Letra por letra
E vírgula por vírgula.
Dê a mim uma faísca
E a tratarei como
Se possuísse o mesmo fulgor
De um Sol que lança
Seus raios do alto do céu
Até o solo onde habito
De braços abertos para seu calor.
Acompanhe-me pelos sonhos,
Devaneios e desilusões
Como maneira de aceitar
Em minhas próprias maneiras
Sua ausência como
Uma cicatriz ardente em minha pele.
Diga e assegure
Que ainda sou a pessoa
Que chorou versos
Em uma tempestade de
Verdades não ditas,
Que houve algo
Além de mentiras
Em minhas confissões.
Faça-me dormir
Com sua proteção
Envolvida em todas
As camadas de decadência
Em constância à superfície
De meu amargo corpo.
Seja uma última vez
A parte de mim que
Justifica cada segundo
Em que deixo a lucidez
Corroer o que imagino que sou
Para tolerar tudo
O que não posso me tornar.
Desperte a senciência
Que trazia o prazer
Em passear por
Dias clandestinos
Sem saber qual seria
O intuito de tudo feito.
Desacelere o tempo
Que escapa de mim
Deslizando entre meus dedos
E juntando-se a mais
Uma certeza de que
A perdição está agora
Mais perto que nunca.
Ponha-me no desabafo
Dos seus lamentos
E veja que, o que você moldou
E esculpiu no meu ser
É algo que não lhe trará
Mais consequência alguma.
Deixe-me em quietude,
Rejeição e solidão
Enquanto o passado
Põe em ruínas o meu presente
E deixa intacto seu futuro
Além das ações do antes.
Ache outra razão,
Num outro lugar,
Numa outra vida,
Num outro abraço,
Num outro começo,
Num outro abandono.
Faça de você
Uma constelação
Que não se mostrará
Mais visível
Aos meus olhos
No zênite noturno
Que permanecerá vazio
Dia após dia.
Apague as luzes,
Feche a porta e as janelas
Quando for sair;
Apenas não olhe
Uma última vez para trás;
Pois sinto que não serei capaz
De retribuir o olhar.