Choque elétrico

Queria me casar com um homem tipo dos anos 70. Aqueles tipinhos roqueiros, cabeludos descabelados que cheiram a pura nicotina e boca com bafo de cachaça e boceta das ninfetas tietes.

Eu beijei bocas que não cheiravam a nada. Eu nem nunca saberia dizer se essas bocas já chuparam os paus dos cabeludos que eu tanto queria.

O amor que não dou aos seres humanos, dou para os animais. Esses anjinhos sim valem a pena até te morderem.

O amor seria uma espécie de pitbull ou chihuahua? Qual é o mais feroz e demoníaco, o amor ou um cachorro com raiva e carrapato?

Eu me tornei um ser sem humanidade alguma, sem escrúpulos.

Gostaria eu de voltar aos tempos de vadia. Onde eu não dava, eu distribuía.

Uma fila do SUS tão demorada quanto o meu orgasmo demorado tentando encontrar a saída da cama de um estranho.

Um texto sujo sobre sobre alguém que não lava a alma há meses.

Tomei banho nos seus beijos, me enxaguei na sua saliva, me alimentei com o leite proveniente de uma boa noite de putaria.

Eu fui feliz até acordar na manhã seguinte e não saber mais quem eu era.

Duas metades em uma só. Duas pessoas brigando pra ver quem ama mais e quem odeia mais.

Uma parte de mim é só amor e coisas boas; a outra parte foi tutora do Seu Lúcifer.

Desconexo como minha mente, mas no fundo tudo faz sentido.

Buk, eu falhei. Nós falhamos.

Amamos muito, até o dia em que acordamos, olhamos pro lado procurando a pessoa com quem sonhamos à noite; lençóis azuis desbotados, um café frio e os fantasmas nos olhando e mexendo a cabeça em sinal de reprovação.

O amor é lindo, mas tem que aguentar a carga psíquica. Aí é que a maioria caga no pau.

Thina Freitas
Enviado por Thina Freitas em 30/05/2019
Código do texto: T6660922
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