Migalhas e lascas

Enquanto espero pra saber,

tirar essa dúvida insistente,

me pergunto se você mente,

se fui muito cega pra não perceber.

Se não dei o devido valor,

quando eu podia dar toda atenção,

me segurei por puro temor.

Talvez estivesse na palma da mão,

mas me recusei a fechar os dedos,

não te quis totalmente pelos medos.

Deixei a porta aberta, esperando você escapar,

de fininho sim, não de supetão.

Eu te apressei? Não pergunto mais,

nem sei se sou capaz

de ouvir resposta, ou receber o habitual silêncio.

Não sei de mais nada,

o que tenho agora são migalhas,

me refreio pra não forçar,

mas pego tudo o que restar.

Será que se sente assim também?

O receio da superfície fria,

que impede de trocar um "bom dia".

Espero pra saber se sente saudade,

mesmo com o assunto cortado pela metade.

São os pequenos gestos, agora bem mínimos,

tudo o que eu queria era um daqueles mimos,

aqueles de fim de expediente,

meio cansado, meio dormente

que eu sempre respondia secamente

mesmo sentindo aquietar as inseguranças.

Temo restarem apenas lembranças,

que elas se apaguem ou sejam alteradas

por meu coração que parece em brasa,

que se aperta num canto que já não era meu.

Hoje senti falta do que não aconteceu,

do que foi interrompido por força maior,

vezes cortado a machado cego, o que é pior.

Sobram as lascas,

em tudo o que toco tem farpas.

Lívia Helena Rodrigues
Enviado por Lívia Helena Rodrigues em 20/06/2019
Código do texto: T6677755
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