Desenfreada

Mais uma vez ela chegou.

Inabalável, imbatível.

Um trem desenfreado, destruindo qualquer plenitude que fora construída.

Talvez um dia ela venha pela última vez, mais forte que nunca, e leve tudo consigo.

Enquanto esse dia não chega, a reconstrução parece inevitável, ainda que sob pilares comprometidos.

Enquanto ainda é possível.

Enquanto ainda há força para recolher os cacos.

Enquanto as feridas ainda são suportáveis.

Enquanto ainda há algo que justifique a batalha.

Mas a derrota se aproxima, as feridas são cada vez maiores, os cacos mais fragmentados e a força exponencialmente menor.

Talvez nesse dia, da derrota, celebraremos. Festejaremos leves a noite toda, e quando a manha chegar, em meio aos destroços, não haverá ressaca, o sol será brilhante e o ar fresco.

As estradas indicam esse caminho.

Eu só quero festejar contigo, entre destroços, a madrugada toda. Só quero repousar em ti, olhando para o brilho do sol, respirando o ar fresco da manhã.

Enfim, definitivamente derrotado, descansar, em ti.

Ragusto
Enviado por Ragusto em 29/09/2019
Reeditado em 24/07/2021
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