O pretensioso

O pretensioso acha que com estas palavras...

...

Na verdade, ele nem sabe o que achar dessas palavras,

Mas alguma coisa

Que não sabe explicar

Age dentro dele

E faz com que ele escreva

E ainda mais

Motiva a ele a expor o que ele escreve

Então essa ação de escrever

E de expor deve ter alguma pretensão...

O pretensioso, portanto é...

Não sabe o que pretende,

Mas mesmo assim escreve,

Talvez motivando,

Porém pelo quê?

Esperança ele não tem

Esperança ele não tem

Esperança de quê?

Talvez a de que alguém possa compreender

O que ele escreve,

Mas de que serve alguém entender o que ele escreve?

Talvez ele esteja querendo se comunicar,

E se alguém entender o que ele escreve

Talvez a... Esse desejo de comunicação

Seja assim realizado...

Mas por que ele quer expor

Nestas palavras

As coisas que estão dentro de si...

Que ele não sabe o motive de existirem...

Essas mesmas coisas que o faz parar,

Parar,

Parar de pensar nos restos das coisas da vida

Parar de agir normalmente

Parar de ver a rua por onde anda

As pessoas que estão nas calçadas dessas ruas

À noite conversando

Bebendo

Rindo...

Ele não ver nada disso

Quando é acometido

Por esse desejo talvez de ser compreendido...

O pretensioso ele escreve,

Mas, como vocês podem ver

As palavras que ele escreve

São desconexas,

Não têm sentido,

É um emaranhado,

Emaranhado,

Como um borrão de um pintor

Que se achou capaz

De pintar um quadro belo,

Mas que no final

Desesperado pela sua incapacidade

Encheu a Mao de tinta

E borrou o seu projeto

E o jogou fora...

E o quadro secou,

Secou no desalento,

A ação do vento e do sol e da chuva

O quadro resistiu...

A água o desbotou um pouco,

E alguém que ia passando

Por ali um dia

Foi chamado a atenção por aquele quadro

Que era para ser uma pintura bela,

Mas que, de alguma forma,

Mesmo não sendo figura conhecida alguma

Despertou a sua imaginação...

O pretensioso talvez seja como esse pintou,

Mas que apenas conseguiu

Aumentar o lixo da cidade

Que foi limpa por alguém

Que ia passando

E levou o quadro para casa

Tentando desvendar, esse alguém,

Daquele quadro, o mistério.

Esse alguém queria saber

O que aquela pessoa que ele não conhece

Tentou pintar,

Esse alguém queria decifrar

O que aquela pessoa tentou decodificar.

E assim segue as pretensões do pretensioso

Num infinito sem fim...

O quadro é contemplado

Por essa outra pessoa desconhecida

E misteriosa,

Talvez com afinidades com o pretensioso,

E por algum motivo aquele quadro ficou ali...

E a pessoa que o pegou constitui família

E a mulher dele pode até ter perguntado

‘Mas que quadro é esse?’

E ele pode ate ter explica a origem

E o porquê de ter pegado aquele quadro

E assim foi nascendo os filhos,

E os filhos do inicio da vida,

Desde o inicio da vida

Contemplavam aquele quadro

Sempre tentando entender

O que o pintor tinha pintado,

Sempre tentando entender

O que o pintor tinha pintado,

Sempre tentando entender

A figura deformada

Que o pintou

Em seu desespero

De não consegui fazer coisa nada

A com a mão cheia de tinta

Espatifou o quadro...

Pois então,

A pessoa que pegou o quadro envelheceu,

Os filhos cresceram,

E a pessoa que pegou o quadro morreu,

E os filhos constituíram família

E o quadro permaneceu...

Um dos filhos levou o quadro consigo

E esse filho também envelheceu

E ele teve filhos

E um dos filhos dele

Levou o quadro consigo...

E assim o quadro permanece,

Permanece,

Permanece na linha do tempo,

Atravessando muitas vidas,

Fazendo com que muitas pessoas se perguntem

Sobre o que pretendia aquele pintor

Ao pintar aquele quadro...

E eles tomam o borrão feito,

A tentativa de arte,

Como a própria arte...

O Desespero do pintor

É como as palavras do pretensioso

Que não têm significado,

Só ele um dia as sentiu completamente,

E as sentiu tão profundamente

Que se desesperou

E amassou todo o papel

E excluiu algumas palavras...

E o projeto todo

O texto todo que ele pretendia escrever

O projeto antes pensado

Nunca pode ser contemplado

Porque o texto que agora lêem

É um texto completamente deformado...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 05/10/2007
Reeditado em 03/05/2008
Código do texto: T681137
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