Primavera Perdida
Ah que dor possuem as mágoas que não cansam...
Vivo em devaneios perenes
Recitando cantigas de infinito,
Costurando lábios proibidos
Com a matéria inconciliável de meus sonhos.
Sou um poeta triste que queima
Aceso nos serões eternos da melancolia
Onde anjos lacrimejam mares
Manchando meu crime mais grave.
Basta-me o ritmo inadequado do verso
A vaga idéia dum aconchego
Num ninho de trevas onde triunfam
Delírios impolutos.
Canto a quimera, a luxúria de gritos.
A solidão devastadora dos olhos
Olhando a paisagem do infinito.
Semeio sóis nos cemitérios de sonhos
E escrevo amores no coração das trevas.
Dirão da minha lira que é triste?
Sim é e com todo direito a sê-lo.
Sou vate dos vícios que vigoram
No amor que ainda não possuí.
Dominado pelas garras de granito da dor
Solto sinas feitas de ferrugem;
Choro lamentos de lágrimas
E numa galáxia de gozos agarro o grito
Que bestializa beijos
Na alma puída
De minhas memórias.
Nas noites quando a lua lambe as lápides
De meu sonho sepultado
Sangro sons de sinfonias mortas
E me arrojo na amplidão onde as marés
Cobrem as dores do naufrágio.
A mágoa exigia a música agonizante
De silêncios eretos de luxuria
Penetrando as trevas
E amando a loucura dos lábios inflamados
Que fazem me sonhar com o amor impossível
Que quase tive numa primavera de luz!