Primavera Perdida

Ah que dor possuem as mágoas que não cansam...

Vivo em devaneios perenes

Recitando cantigas de infinito,

Costurando lábios proibidos

Com a matéria inconciliável de meus sonhos.

Sou um poeta triste que queima

Aceso nos serões eternos da melancolia

Onde anjos lacrimejam mares

Manchando meu crime mais grave.

Basta-me o ritmo inadequado do verso

A vaga idéia dum aconchego

Num ninho de trevas onde triunfam

Delírios impolutos.

Canto a quimera, a luxúria de gritos.

A solidão devastadora dos olhos

Olhando a paisagem do infinito.

Semeio sóis nos cemitérios de sonhos

E escrevo amores no coração das trevas.

Dirão da minha lira que é triste?

Sim é e com todo direito a sê-lo.

Sou vate dos vícios que vigoram

No amor que ainda não possuí.

Dominado pelas garras de granito da dor

Solto sinas feitas de ferrugem;

Choro lamentos de lágrimas

E numa galáxia de gozos agarro o grito

Que bestializa beijos

Na alma puída

De minhas memórias.

Nas noites quando a lua lambe as lápides

De meu sonho sepultado

Sangro sons de sinfonias mortas

E me arrojo na amplidão onde as marés

Cobrem as dores do naufrágio.

A mágoa exigia a música agonizante

De silêncios eretos de luxuria

Penetrando as trevas

E amando a loucura dos lábios inflamados

Que fazem me sonhar com o amor impossível

Que quase tive numa primavera de luz!

Luis Felipe Saratt
Enviado por Luis Felipe Saratt em 13/10/2007
Código do texto: T692782