Uma carta e os óculos escuros

A carta sobre a mesa

O bilhete último

buscando leveza

Os óculos escuros: uma maneira de esconder os olhos

pra não ver que a humanidade tropeça

Fingir que está tudo bem

é compactuar com as mentiras

vendidas em redes sociais

E perguntaram o que habita a minha cabeça

Agora, com o peso nos ombros,

o cansaço do mundo,

o fastio do Brasil,

não saberia responder

Mas ontem eu tinha borboletas na cabeça

Voos certos, sem pressa

Sonhos prontos para virarem realidade hoje

No entanto, a vida é sempre um drible,

uma surpresa na esquina

Aldir já nos dizia da esperança equilibrista

E eu lembrei do Brasil de ontem

de coturno e traje verde oliva

E hoje ainda vejo a ignorância ganhar as ruas

com trompetes de insensatez

Desumanizamos tudo

Agredimos tanto

E agora a estúpida certeza

de que falhamos como espécie

Sugamos tanto a natureza

que agora ela cobra as ofensas

E há um desencarne absurdo e absoluto

a cada dia

Muita gente dizendo adeus pra esse Brasil

que descarrilha em discursos de ódio

e falta de empatia

E eu luto, luto, luto

E peço arrego com essa poesia

Agora enquanto escrevo

alguém xinga pela rua

E eu, sem forças, sigo estatelado no sofá

O mundo parou

e eu já desci

esperando o próximo trem

que nos salve!

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 04/05/2020
Código do texto: T6937544
Classificação de conteúdo: seguro