Fim

Sempre penso que hoje,
hoje seria o último dia para respirar,
afagar os anseios da vida,
deleitar no instante final.
Mas, acaba sempre sendo o penúltimo.
Até quando, Deus há de pairar,
exposta no ar, a expectativa pela vinda,
a chegada itinerante da despedida,
a ida totalmente despida
de algum legado deixado para traz ?
E eu, enquanto participo da festa,
este ato estranho cheio de buscas,
procuras vãs,
caminhos onde as clãs
disputam entre si, cumes,
posições sobrepostas aos menos afortunados,
vou saboreando tudo neste sonho
com gosto de timidez,
medo que aflora pela pele.
Se o bem não aparece,
o mal bate à porta, não se repele.
E eu pensei ser grande, forte para o combate;
até que rolou a primeira lágrima,
vinda, descida, levando a vergonha,
desbotando o pudor.
Foi o amor.
Veio, sorriu, calou,
rasgou o inverno, fez frio,
congelou entre tantas coisas
que já apedrejaram, que se fixaram com vínculos,
traços fundos neste rosto
que espera sempre o último momento,
de um dia após o penúltimo.