nudezas

Não sei dizer tudo.

Talvez nem haja como.

A palavra haveria hesitar

Ante tanto que houve nestes recentes tempos

Tudo o que fiz

Os riscos que corri

(Muito apenas precariamente ciente de seus significados e implicações possíveis

Porque não se pode ter mais do que isso com riscos

E tanto sempre o que acontece é só o que não se previu).

As fronteiras que rompi

(Sabe-se lá com quantas vítimas e que violências).

Arrastar cancelas baixadas...

Várias batalhas. Vários desníveis. Vários estados, sempre breves, instáveis.

Transpostos com a pressa dos que perderam tempo. Dos que perderam o tempo.

Preparações fugazes, telegramas, profundos toques fortuitos

As nudezas ao invés das escassezes

Não sem sobreviventes velhas rigidezes.

Sabores, ânsias seculares colmatadas (aviltamentos revividos?)

De tudo, a guerra imperiosa e inevitável

(Verdadeira e atrozmente inevitável)

Não estorva ilusões.

Como se constroem ladinamente elas, sorrateiras!

Quando se vê, já nos tomam, septicêmicas!

Ilusão de que mudança ruma a felicidade

(Seja lá o que se conceba ilusoriamente como tal)

Na proporção direta da angularidade da transgressão consumada.

Ilusão de que tudo isso dá direitos, prerrogativas.

De que o precário pode ser perene.

Enfim: ser o que de fato se é

Tornar-se

Não garante senão ser

Não dispensa a deglutição do inevitável

A digestão custosa do real.

Sofro agora a volúpia da embriaguez e da culpa

(Ó, as duas tão tentadoras neste ponto!)

Sem saber bem quê fazer

Tropeço desajeitado em excessos, exageros e faltas

Destroço trincheiras que se podiam preservar

(Que se deviam preservar?).

Estremeço e sobrevivo.

Toco e sou tocado.