Impostor de sentimentos genuínos

Impostor de sentimentos genuínos,

após anos de funesta lamúria,

acordo do sono adentro no ímpio.

A mentira que contei para outrem

balsama-me o coração sujo de graxa,

sua negritude é a metáfora da inação:

escura, sem vida e com odorosa ilusão.

Eis a suma de minhas palavras soltas.

Provérbios, frases e poemas falsos,

tudo em nome de impostura.

Medo talvez, em querer deleitar-se no colo

de quem queria proteger-me com seu

afago carinho, mas que para mim era

apenas educação ou dor de consciência.

Eu agora sou o juiz, réu e promotor da

própria existência: júri, repreendido e

acusador dos meus sentimentos genuínos.