Bordado em seu tecido errático.

Meu coração é uma vitrola tocando Tim Maia.

Também sou os copos transparentes de Shot do bar.

Pareço muito com os protetores de copo de isopor.

Serei o balcão de madeira, todo detalhado e cheio de marcas que o tempo impôs. Entalhado de unhas e sujeira, úmida.

Meu peito é um freezer,

na consequência amarga  e errada em se tornar uma forma de gelo.

Serei uma grama verde, um dia.

Com uma placa esculpida

as últimas palavras que não eram minhas.

Que nunca foram suas.

Porque a gente nunca se pertenceu de verdade.

E tudo que me contaram sobre nós

era uma irrealidade criada dentro de um peito

carente e propenso

em gostar de alguém passageiro.

Que nem os trens, 

pessoas que passam se esbarrando na rua,

em um corredor apertado.

Na minha vida que se torna menor,

com mais um pedaço de retalho costurado

na minha alma sacrificada

e bordada no seu seu tecido errático.

(Nenhuma linha vai remendar esse buraco).

Gostaria que as agulhas me machucassem agora; assim,

eu poderia sentir você girando a maçaneta e indo embora.

 

Poesia da obra: "As onomatopeias do silêncio", 2021; Hudson Henrique;Todos os direitos reservados.

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