Natureza Morta

Como os poetas mudam

Se quebradas as suas liras

Pela crueza irrefreável da realidade...

Como mudam seus objetos, afetos

Se as próprias musas, ora,

Não passam de miragens no deserto

De imaginações confusas...

"Queixo-me às rosas?" Não.

Há algum tempo, eu talvez também

Cantasse às rosas.

Hoje, canto

Às flores negras da Morte,

A única e inexorável certeza que tenho nessa vida

Ou canto, então, às flores artificiais...

"As flores de plástico não morrem".

O artificial não perece, não vai embora,

Não machuca com espinhos.

Se eterniza em sua falsa beleza.

Outra inexorável certeza.

Os espinhos, cravados na carne, são só o que sobrou

Dos amores, das ilusões, dos ideais

Agora que estou só, nada me conforta

A não ser tecer hodes

À verdadeira natureza das coisas

O nada, em sua essência

Tecer hodes

À natureza morta...