Aos políticos do Brasil

Vicente Freitas

Dai-me, Senhor, assessoria

para eu falar aos políticos do Brasil.

Será que político escuta alguém?

Adianta falar a políticos?

E será que tenho coisas a dizer-lhes

que eles não saibam, eles que transformam

a administração em maligno esquecimento?

Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa,

quando perdem os olhos

para toda paisagem,

perdem os ouvidos

para toda melodia

e só vêem, só pensam

num salário de sua própria legislação?

Cegos, surdos, falantes – felizes?–

[são os políticos

enquanto políticos. Antes, depois

são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.

Mas quem foi político sabe que outra vez

voltará à indesejável invalidez

que é signo de miséria exterior.

Político é o ser fora do tempo,

fora de obrigação e CPF,

ISS, ICMS, IPTU, INSS.

Os códigos, desarmados, retrocedem

de sua porta, as multas envergonham-se

de alvejá-lo, as guerras, os tratados

encolhem o rabo diante dele, em volta dele.

O tempo, afiando sem pausa a sua foice,

espera que o político crie vergonha na cara.

Mas nascem todo dia políticos

novos, reprovados, inoperantes,

e ninguém ganha nesta baderna.

Pois politicar é destino dos humanos,

destino que regula

nossa dor, nossa ambição, nosso inferno interior.

E quem vive, atenção:

cumpra sua obrigação de politicar,

sob pena de viver apenas na aparência.

De ser o seu cadáver itinerante.

De não ser. De estar, ou nem estar.

O problema, Senhor, é como aprender, como exercer

A “arte” de politicar, que audiovisual nenhum ensina,

e vai além de toda universidade.

Pobre de quem não aprendeu direito,

ai de quem nunca estará maduro para aprender,

triste de quem não merecia, não merece politicar.

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1. Poema da série “Brincando com Drummond”.

Vicente Freitas
Enviado por Vicente Freitas em 22/11/2007
Reeditado em 22/11/2007
Código do texto: T747890