Pensamentos presos
XLIV
Todos os dias iguais
mas hoje diferente
a aflição frivola não é fatal
é apenas queixume de gente.
Penso mais do que as palavras
que as não sei dizer
redomuinho de ideias sábias
sem lugar no que quero escrever.
Procuro ajustar as palavras á ideia
e nos dedos fica apenas a frustração
de quem sabe pensar mas a arte escaceia
e os rascunhos, uma ingénua confusão.
Não me identifico com a voz
quando leem aquilo que sou
não existo em palavras sós
meus versos não têm o toque que lhes dou.
Faço borrões de tinta á toa
palavras sem significado, contrárias,
ajusto os dedos e o pensamento voa
em caligrafias de negações várias.
Este mau estar onde estou,
minha elequencia vazia
e o dizer que por debaixo da lingua ficou
comandam a minha teimosia.
Bem sei que tudo isto é um sonho
querer escrever meus sentimentos
se no papel não posso, onde os ponho?
É um tormento não saber destilar pensamentos.
miguel lopes