Mulher jovem com cabelos de prata

Os cães farejam a praça

e minha casa

ao redor intata

é enfeitada de bizarras

alegorias de estupor

anões bibelôs plantas plásticas garças

meus cabelos massacrados

de prata

previsíveis frágeis sarças

meu coração maltratado

me mata

meu amor desconhecido

nunca entoou

muito escondido

uma mera serenata

serenos meus dias

de tanger as feras presas

sem ensaios

sem anseios

sem vilezas

sigo louca a danar

minha mãe assaz alteza

e meu pai fantasma rei no respaldar

quem me dera ser princesa

num desconhecido naufragar.

Meus cães e meus cãs

correm me arrastando num frenesi deselegante de pata

minha juventude

tristíssima e nata

interrompida em galopes suprimidos sem afãs.

Os anos correm e cortam

minha existência

e se imploro

por clemência

mais subversivo é o escurecer de fria mata

aonde a lua impassível ingrata

nunca ademais pousou.