Quando em desgraça aos olhos dos humanos,

sozinho choro o meu maldito estado,

e ao surdo céu gritando vou meus danos,

e a mim me vejo e amaldiçoa o Fado,

 

sonhando-me outro, fico de esperanças,

coa imagem del. como el tão respeitado,

invejo as artes de um, doutro as usanças,

do que mais gozo menos contentado.

 

Mas se ao pensar assim, quase me odiando,

acaso penso em ti, logo meu estado,

como ave, às portas celestiais cantando,

se ergue na terra, quando o sol é nado.

 

Pois que lembrar-te, amor, tem tal valia,

que nem com grandes reis me trocaria.