Ode ao olhar
Um cego abriu seus olhos
quando viu a natureza,
pintada a mão e esculpida a talho,
um imenso oceano se via no orvalho
Nos cascalhos esparramados ao chão
imaginava um rochedo intrasponível,
ouvia-se com clareza
a voz macia da mãe-natureza
Sentia firmeza naquilo que via
queria poder não mais fechar os olhos
queria pra sempre viver a contemplar
a mistura banal de terra, aguá e ar
Um poeta abriu seus olhos
quando conheceu o amor
sem pintura e sem rosto
um abismo imenso lançado ao desgosto
Nas tranças esvoaçadas ao vento
imaginava um único fio de cabelo
sentia-se um arrepio
pela morte ainda viva por um fio
Sem firmeza, apoiava-se ao relento
queria nunca ter estado ali
queria pra sempre apagar da lembrança
a mistura fatal de ódio e vingança
Da menor semelhança
a maior diferença,
apreciar a beleza por poder enxergar
esquecer-se dela por simplesmente amar...